SEJAMOS EGOÍSTAS; ESQUEÇAMOS O BRASIL! PARA O BEM DO BRASIL E DOS EGOÍSTAS
Fonte: Blog Reinaldo Azevedo
Ainda não parei para ler a respeito, confesso: não sei se o Brasil vai ter – ou está tendo – mais medalhas ou menos do que nos jogos passados. Meu esporte predileto é levantamento de xícara de café. Ouvi o escarcéu que Galvão Bueno fez por causa de uma medalha de ouro na natação. E como chorava o nadador! Ok. Estava emocionado. Agora vi Diego Hipólito cair de bunda no chão. chorou também. Lágrimas na vitória ou na derrota. Ele pediu desculpas aos brasileiros. Eu não aceito. Não aceito porque ele não me deve nada. A parte que me cabe, eu devolvo. Precisamos parar com essa frescura de achar que os atletas são representantes do povo. Não são! São representantes de si mesmos. E o “país” só vai ter alguma importância nessa área quando as ambições dos competidores forem estritamente egoístas. Se Diego Hipólito nos devesse desculpas, Michael Phelps nadaria em nome da América. Só que ele nada por si mesmo. A América que se dane. Mesmo ganhando os parabéns de Bush. Quem liga? Ele?
Ah, não me venham os especialistas falar sobre como se fazem campeões: sim, investimentos, patrocínio, seleção rigorosa dos pequeninos etc. Eu não entendo nada de esportes. Sei que ou brilham nessa área os Estados Unidos, com o culto ao individualismo — o sujeito se dedica a competir e considera inaceitável perder —, ou brilham as ditaduras: o perdedor é eliminado da história. Não se vive da adulação do esforço coletivo e piedoso, ainda que inútil. O Brasil parece dar pirueta “com a comunidade”; fazer ginástica “com a comunidade”, esforçando-se para levar ao pódio a, se me permitem o gracejo, "média mediocre". Não dá certo.
Há ainda algo a indagar: por que os brasileiros choram tanto quando ganham uma medalha? Você vê americano chorando? Acompanho os jogos de longe tanto quanto possível — e é quase impossível. Phelps está o tempo inteiro com aquela arcada dentária toda torta à mostra, um olhar meio perturbado pela obsessão. Choro? Nunca vi. Não só isso: é pôr o microfone na boca dos nossos atletas, a primeira coisa que fazem é agradecer à mamãe. Um jogador do vôlei teve um filho. Suas primeiras palavras: “Quero agradecer à minha mãe, e espero dar ao meu filho o mesmo que recebi...” Tá bom! Mas a parturiente do dia era outra, né? Sim, numa perspectiva psicanalítica, há quem diga que nós, os rapazes, sempre nos casamos com nossas mães (os casamentos bem-sucedidos), mas convém cortar esse aleitamento materno-espiritual dos esportes. Ou nem toda grana do mundo vai fabricar campeões.
Seja na política, seja nos esportes, seja nas artes, há um culto ao paternalismo e à desproteção sincera, emocionada e esforçada. Lembro do filme Central do Brasil, que fez um sucesso danado. Aquele garotinho em busca do pai era o país em busca da paternidade, como se fosse desprotegido e procurasse o demiurgo de suas fantasias. Ele acabou aparecendo. Agora, a “mãe” já começa a subir no palanque. É o pai do povo, a mãe do PAC, e a gente de bunda no chão.
Diego caiu! Não deve pedir desculpas a ninguém. Tivesse ganhado a medalha de ouro, os méritos, benefícios e honras da conquista seriam só seus. Como Phelps e sua penca de medalhas. Não há melhor receita de sucesso do que ser egoísta e esquecer o Brasil. Melhor para os egoístas e melhor para o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário