Larry W. Smith/EFE
Terminado o espetáculo do primeiro debate entre John McCain e Barack Obama, restou a impressão de que a crise é maior do que a capacidade de ambos de lidar com ela.
Em tese, seria só mais um problema para a sociedade americana resolver. Mas, na prática, é bem mais do que isso.
Como ensina George Bush, a incapacidade pessoal, quando hospedada na Casa Branca, torna-se uma dor de cabeça de dimensões planetárias.
Sob a mediação do jornalista Jim Lehrer, os candidatos foram convidados a discorrer sobre a crise que incendeia os mercados logo no início da contenda.
Num instante em que o governo prepara-se para enterrar US$ 700 bilhões do contribuinte num buraco privado, McCain e Obama se entregaram ao debate de miudezas.
McCain acenou com o corte de gastos públicos. Chegou mesmo a mencionar um tipo de despesa chamada por lá de "earmarks."
São gastos injetados por congressistas no Orçamento preparado pelo Executivo. Coisa de US$ 18 bilhões por ano. “Peanuts”, diria um americano. Café pequeno, dizemos nós.
Obama desperdiçou um naco do tempo que lhe coube para informar que combaterá a crise podando os impostos pagos por americanos que ganham até US$ 250 mil anuais –95% da população. Mais “peanuts”.
Nenhuma palavra sobre a incúria de um mercado financeiro sem rédeas. Nada sobre o peso dos EUA na economia global. Nem sinal de um esboço de redesenho do sistema apodrecido. Coisa nenhuma acerca da ineficiência da fiscalização oficial.
A certa altura, o mediador Jim Lehrer tentou trazer os contendores à realidade. Disse que não enxergara na fala de ambos, nada que se parecesse com uma explicação objetiva acerca das mudanças que a crise provocaria em suas respectivas plataformas.
E McCain: vou congelar os gastos públicos. Obama redargüiu. Disse que o rival empunhava um machado diante de um problema que exige bisturi. Melhor, disse ele, rever os programas de curto prazo. E ponto.
De resto, McCain tratou da crise como se lidasse com uma dinamite lançada sabe-se lá por quem.
Obama tentou, num par de intervenções, lembrar ao telespectador que o adversário, cacique da mesma tribo republicana de Bush, ajudou a acender o pavio.
Faltou, porém, ênfase à decantada oratória de Obama. Bem-sucedido na tática de se dissociar do desastre, McCain não se deu por achado.
Tratou de celebrar o fato de a crise ter aproximado republicanos de democratas na busca conjunta de uma solução.
Nesse ponto faltou, de novo, competência retórica a Obama. Esquivou-se de lembrar que os republicanos –McCain à frente— dificultam a costura do entendimento necessário à aprovação do superpacote no Congresso.
Tudo considerado, produziu-se um debate sem vencedores. Houve, em contrapartida, dois perdedores. O eleitor e, sobretudo, George Bush.
Bush e sua administração apanharam indefesos. McCain portou-se como personagem de uma fábula de Esopo. Aquela sobre os dois peregrinos que deram de cara com um urso na estrada.
Um deles, apavorado, refugiou-se no alto de uma árvore. O outro se jogou no chão, fingindo-se de morto. O urso chegou perto, soprou-lhe algo na orelha e foi embora.
O McCain da fábula desce da árvore e pergunta: "O que é que o urso cochichou no seu ouvido?"
E Bush: "Ele me aconselhou a não viajar mais com quem abandona os amigos na hora do perigo". Moral: É na dificuldade que se prova a lealdade.
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Ganância e luta pelo poder tornam o ser humano patético,
e sua etnia não conta ponto à favor e nem contra quanto a essa condição humana.
Ganância e luta pelo poder tornam o ser humano patético,
e sua etnia não conta ponto à favor e nem contra quanto a essa condição humana.
AMC
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