Blog: Reinaldo Azevedo
Leiam algumas frases do novo marqueteiro de Geraldo Alckmin (PSDB), Raul Cruz Lima, o homem que decidiu deixar Marta Suplicy (PT) de lado e partir para cima de Gilberto Kassab (DEM), que administra São Paulo com o... PSDB!!!
- "Assumi com o dr. Geraldo (Alckmin) dois compromissos: com a vitória e com a verdade. Temos de mostrar os fatos".
- "Não se trata de ataque. Se trata de mostrar a história política dele [Kassab]. Temos que mostrar que Kassab trabalhou com Pitta e Maluf e que é aliado de Orestes Quércia (PMDB). Entre as melhores virtudes do Alckmin estão sua coerência política e sua credibilidade. Temos que mostrar isso, a diferença dele para os outros".
Como se vê, o comando da campanha de Alckmin decidiu associar Gilberto Kassab a Celso Pitta e Maluf — o que, do ponto de vista político, é falso como nota de R$ 3, e explorar a coligação do DEM com o PMDB, tentando trazer para o primeiro plano a figura de Quércia. Alckmin faz, assim, a opção pela guerra aberta. Lembram-se daquela ladainha de que seu pai lhe ensinou que o negócio era falar bem de si mesmo e jamais mal dos outros? Pois é! Só vale para adversários. Dos aliados de seu partido, ele fala mal sem problemas. Quem não se lembra de um Alckmin que optou, numa estratégia genial, por ignorar Lula em 2006? Faz o mesmo com Marta Suplicy, elegendo um aliado de seu partido como inimigo.
As frases do tal marqueteiro estão publicadas numa reportagem de hoje do Estadão, assinada por Ana Paula Scinoca. Geraldo Alckmin está executando dois movimentos em um:
1) caso Gilberto Kassab passe para o segundo turno, está tornando seu apoio ao prefeito praticamente impossível;
2) caso ele próprio, Alckmin, dispute com Marta, acredita pode prescindir do apoio de Kassab, já que o governador José Serra seria empurrado pelo partido a entrar na campanha.
A tática expõe um jeito de fazer política e nos faz vislumbrar sua noção de lealdade na, como é mesmo?, construção do partido... Que se note: Kassab deu largada a sua campanha, muito atrás, praticamente ignorando Alckmin. O trabalho de confrontar o petismo na cidade ficou apenas por conta do candidato do DEM. Desde o primeiro programa, o tucano se dedicou a tentar desconstruir a gestão Serra/Kassab — que, não obstante, é amplamente aprovada pelos paulistanos. A escolha inicial era falar das carências ainda existentes na cidade — são e serão muitas por muitos anos — sem, no entanto, um ataque direto ao prefeito. Os alckmistas não apostavam na ascensão de Kassab. Erraram nesse particular.
Agora, como se vê, a escolha é outra. Além de prosseguir a campanha para tentar desqualificar o trabalho da Prefeitura, opta-se pelo jogo sujo, pela depredação política. Nem nos seus melhores sonhos, Marta Suplicy poderia contar com um aliado objetivo como Alckmin. Se a tática do ex-governador der certo, ele próprio terá fornecido à petista a munição necessária para combatê-lo no segundo turno. Mas não só isso.
Na trajetória, terá também criado um tumulto importante nas relações PSDB-DEM, um dos caminhos — pode não ser o único, mas é hoje o principal — para apear o PT do poder. Desde quando ele anunciou a sua obsessão de “prefeitar”, observei que seu jogo a) tinha muito de pessoal, como sempre; b) servia a outros desígnios.
E Kassab? Faz o quê? Parte também para a depredação, com a mesma honestidade política? Mostra imagens da estação desmoronada do Metrô, “obra de Alckmin”? Mostra os ataques do PCC em São Paulo, na “gestão de Alckmin”. Convenham: o prefeito cresceu, ele sim, exibindo os próprios méritos. E foi a campanha do candidato do DEM que tirou alguns pontos de Marta no primeiro turno.
Com essa escolha, mesmo que vença, Alckmin está dando mais uma pancada na já debilitada oposição. Alguns gênios devem estar lhe soprando futuros gloriosos ao ouvido. Outros candidatos de si mesmos já pensam em alçar vôos maiores em 2010. Não custa lembrar: quem escolheu Kassab para vice de Serra em 2004 foi... Geraldo Alckmin. A idéia era mesmo indicar um político então pouco conhecido porque isso obrigaria Serra a permanecer na Prefeitura e a não disputar a Presidência em 2006. Se bem se lembram, “Geraldo” foi o chefe da torcida “Fica, Serra”. Tivessem as coisas se dado como ele queria, Aloizio Mercadante estaria agora no Palácio dos Bandeirantes.
A campanha de Kassab não deve subestimar a saraivada que vem por aí. "Ignorar Geraldo” parece, em princípio, uma boa tática para o prefeito candidato, mas com um olho no peixe e outro no gato. Ao menor sinal de que a campanha suja está surtindo efeito, o negócio é seguir a recomendação dos geraldistas e reagir “doa a quem doer”.
O PT já mandou flores para Geraldo Alckmin hoje?
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