"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

segunda-feira, novembro 16, 2009

CRIANÇA

Inimigo oculto

A maioria dos acidentes que envolvem crianças acontece em casa; ambiente precisa ser adaptado para prevenir quedas, intoxicações, afogamentos e queimaduras

Para a maioria dos pais, não há lugar mais seguro para as crianças do que sua própria casa. Mas não é bem assim. Um estudo feito pela ONG Criança Segura, em 2005, revelou que 55% dos acidentes que envolvem os pequenos ocorrem em casa e, geralmente, com um adulto por perto. As quedas são o tipo mais recorrente, em uma lista que inclui afogamentos, queimaduras e intoxicações.
Segundo outra pesquisa, do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas), da Fundação Oswaldo Cruz, 24% dos casos de intoxicação em 2007 atingiram crianças com menos de cinco anos -a maioria, em casa.
Os medicamentos são a principal ameaça desse grupo (36% dos casos), seguidos da ingestão acidental de produtos de limpeza (22,2%, sendo a água sanitária a maior vilã). "Ela está em todas as casas. Além disso, a criança pequena não tem o paladar totalmente apurado. Por isso, pode bebê-la tranquilamente", diz Rosany Bocher, responsável pelo estudo.
Produtos químicos, como ceras, agrotóxicos de uso doméstico (inseticidas) e animais peçonhentos, como os escorpiões, que geralmente ficam escondidos em roupas e sapatos, são outras ameaças. A intoxicação ocorre durante o esmagamento acidental do animal.

*Luca Furchinetti

Dose errada

Mãe de primeira viagem, a relações públicas Patrícia Furchinetti, 35, passou por duas experiências de intoxicação medicamentosa acidental com seu filho Luca, de nove meses.
Na primeira vez, quando o menino tinha cinco meses, Patrícia entrou no quarto da criança no escuro e, equivocadamente, administrou uma dose errada de antitérmico. "Teria que dar 0,7 ml e coloquei 7 ml, dez vezes mais."
No hospital, o caso foi informado ao Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica). "Foi horrível, fiquei superconstrangida com a situação", afirma. O bebê teve alta no dia seguinte.
Na segunda vez, Luca tinha sete meses quando Patrícia administrou corticoide por mais tempo do que o indicado. O menino quase entrou em choque, e ela teve que diminuir a dose do remédio paulatinamente.
Segundo o Sinitox, os casos de intoxicação por medicamento acontecem tanto pela ingestão acidental (por armazenamento em local impróprio) quanto pela administração errada.

Quedas

Helena Gomes Morais, 4, também estava sob os cuidados de um adulto quando sofreu uma queda da rede, no mês passado. Instantes depois que a avó deu as costas para a menina, que brincava no terraço, Helena caiu e cortou o queixo. Precisou levar três pontos. "Depois disso, não tenho mais colocado a rede em casa", diz a mãe, a procuradora Mariana Gomes Morais, 36.
Embora a área externa ofereça riscos de queda, afogamento e intoxicação por plantas e produtos químicos, o local mais perigoso da casa é a cozinha. "Evitar que a criança entre ali reduz em 80% os acidentes, porque na cozinha podem ocorrer queimadura, intoxicação e quedas", diz Alessandra Françoia, coordenadora nacional da ONG Criança Segura.
O banheiro também oferece riscos, conforme mostrou um estudo publicado na revista "Pediatrics". De 1990 a 2007, cerca de 43 mil crianças foram atendidas em unidades de emergência dos EUA, a cada ano, devido a escorregões e quedas durante o banho.

Prevenção

A boa notícia é que a maior parte dos acidentes pode ser prevenida. Segundo Françoia, os pais devem avaliar o desenvolvimento dos filhos para, então, adaptar a casa à sua presença. "A criança de dois ou três anos não sabe o que deve evitar. Ao afastar o perigo e conversar com ela, estamos orientando e educando", acredita.
Uma medida importante para prevenir quedas, que representam mais da metade desses eventos, é proteger as janelas dos apartamentos. "Deve-se sempre colocar tela: na sala, na cozinha, na área de serviço. E isso vale para crianças de qualquer idade", diz Françoia.
Escadas, lages e até o prosaico trocador de bebê também podem ser uma ameaça -que o diga a psicóloga Candice Pomi Sousa Marques, 35. Quando seu filho Teodoro tinha quatro meses, ela o deixou sobre o móvel para abrir o chuveiro. "Nessa idade, não esperava que ele rolasse. Coloquei uma almofada no trocador, mas, quando voltei, ele tinha se espatifado no chão", recorda-se. O menino ficou dois dias internado e precisou de gesso por um mês.
Quando o acidente não pode mais ser evitado, há algumas dicas a seguir. Em casos de queda, a criança deve ser observada. "Se tem vômito, palidez, choro diferente, desmaio ou afundamento no local em que bateu a cabeça, deve ser levada ao hospital", diz Renata Dejtiar Waksman, presidente do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria e uma das coordenadoras do livro "Crianças e Adolescentes Seguros" (ed. Publifolha).
Queimaduras devem ser lavadas em água corrente por cinco a dez minutos. Se a criança sofre uma intoxicação, o indicado é ligar para um centro de assistência toxicológica para receber orientação.

FERNANDA BASSETTE
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fonte: folha.uol

* Luca, meu sorridente neto!

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