"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

sexta-feira, setembro 12, 2008

Candidatos em debate

Marta, Alckmin e Kassab no debate da Band

Fonte: Reinaldo Azevedo

Nada se parece mais com uma lei de censura do que a legislação eleitoral brasileira que obriga as TVs a levar para os debates aqueles zumbis, candidatos de si mesmos, que nada têm a dizer. A cada vez que, de posse de seu 1% do eleitorado, um deles diz “no meu governo”, fico com vontade de me esconder debaixo da mesa do escritório. Já que parecem desprovidos dela, sinto vergonha por eles. No máximo, devem chamar a atenção da mãe, da mulher e da empregada — esta, espero, vingando-se do mané, vendo-o no papel ridículo.

Por que isso? A TV Bandeirantes realizou ontem o segundo debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. Serviu para ver, entre os três com chances de vencer a eleição — Marta Suplicy (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) —, quem está menos ou mais afiado, qual pode ser a estratégia dos próximos 19 dias e tal. E só. Não é possível levar a sério uma mesa em que um tal Renato Reichmann diz haver 250 mil crianças fora da creche em São Paulo. É mentira! É uma estupidez! Ou ter de agüentar o agora nanico Paulo Maluf falando para o neto que o “vovô vai ser o melhor prefeito...” É o fim da picada as TVs não poderem fazer um debate, a esta altura, apenas com os três viáveis. A legislação tem vocação ditatorial. É pior do que a Lei de Imprensa do Regime Militar. Falei isso ao ministro Ayres Britto, presidente do TSE, naquele debate de que fui o mediador. “Ah, mas TV é concessão pública”. E daí? Só por isso tem de abrigar esse trem-fantasma? Tenham paciência! Adiante.

Dos três viáveis, Gilberto Kassab teve, sem dúvida, o melhor desempenho. Isso muda alguma coisa na eleição? Talvez seja o contrário: porque parece estar em ascensão, mostrou-se bastante seguro e respondeu com precisão técnica e, às vezes, dureza aos ataques de que foi alvo. O tucano Geraldo Alckmin também se saiu muito bem — sobretudo quando debateu segurança com Marta Suplicy. E a petista, bem..., a petista parece estar cultivando o hábito de falar primeiro e pensar depois. Vamos lá.

Sob o pretexto de criticar a gestão Serra na Prefeitura por ter extinguido (com o auxiliar “ter”, o certo é “extinguido”) a inútil Secretaria Municipal de Segurança, Marta foi na jugular de Alckmin e lembrou os ataques do PCC em São Paulo, dando a entender que a criminalidade, na sua gestão, saiu do controle, que os tucanos não ligam pra isso... Quebrou a cara. Até porque é mesmo mentira. Em 12 anos, o número de homicídios em São Paulo caiu mais de 70%, uma queda espantosa, como bem lembrou Alckmin. E isso é verdade. No embate dos dois, o ex-governador ainda levou vantagem sobre a petista quando lembrou — e isso também é fato — que ela deixou uma dívida na prefeitura de R$ 1,8 bilhão. Restou à candidata dizer que não iria discutir números com ele. Sei...

Marta teve uma jornada infeliz também com Gilberto Kassab. Por alguma razão, os petistas acham que ruim não é dívida, mas ter dinheiro em caixa. Coube ao prefeito lembrar que a grana é destinada ao pagamento das obrigações contraídas pela Prefeitura e que, bem..., ruim mesmo é não pagar. Segundo Marta, o fato de a Prefeitura ter dinheiro no banco corresponde a “dar dinheiro para os banqueiros”. Ai, Deus! No seu único momento feliz do debate, Maluf lembrou o que é fato: as duas administrações que deixaram São Paulo mais endividada até hoje foram petistas: a de Erundina e a de Marta.

A dinâmica do programa permitiu a Kassab e à candidata Sônia Francini (PPS) uma espécie de dobradinha, sei lá se voluntária, que acabou sendo positiva para o prefeito. Nas duas vezes em que fez pergunta à vereadora, ele listou as próprias obras e perguntou a que ela achava a respeito. Ela achava que o caminho era aquele, mesmo lembrando que há muito por fazer. Claro, claro, sempre há. Kassab tem uma coisa a seu favor, que facilita o desempenho em encontros dessa natureza: ele realmente tem muito o que mostrar.

Sim, Alckmin atacou a Prefeitura, embora não de modo frontal — os embates mais duros ficaram mesmo reservados para Mart. Criticou a área de saúde, de transportes e as subprefeituras, loteadas, segundo ele, entre os vereadores. Não se referiu diretamente a Kassab, mas nem precisava. No último bloco, na fala final, o prefeito aproveitou os dois minutos e, aí sim, falando diretamente com Alckmin, lembrou que ele foi governo por oito anos e que a saúde, por exemplo, deixou muito a desejar. Não dava mais para o tucano responder.

Houvesse um júri montado para saber quem deu as melhores respostas e quem trabalhou com números mais realistas, o vitorioso seria Kassab, embora Alckmin também tenha se saído bem. Marta foi quem mais se atrapalhou nos embates diretos. Todas as suas iniciativas mais agressivas tiveram contra-ataques duros dos dois principais oponentes. Debates mudam alguma coisa? Sinceramente, acho que não. E, com as limitações impostas pela legislação de vocaçao ditatorial, tornaram-se uma chatice infernal.

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