92 milhões: Big Bando de Bobos
Regina Azevedo
Realmente, como fenômeno de comunicação de massa, não há como negar a penetração do programa BBB na vida de milhões de brasileiros.
Penetração. Considero esta a palavra mais adequada. Não somos nós que invadimos a casa, eles é que invadem a nossa, esfregando seus corpos, caras e bocas nas nossas telinhas. A maioria das vezes aos berros, mostrando toda sorte (ou azar?) de grosserias e falta de educação.
Estupro intelectual? Nada disso: penetração consensual, à medida que escolhemos qual botão apertar para trazer um pouco de "realidade" para dentro de nossas vidas, num escapismo aos nossos problemas tão duramente reais... É certo que o show de horrores não pode ser de todo previsto, pois ali impera o obsceno, aquilo que foge à cena e nos vai sendo atirado na cara. Então nos dizemos aviltados, escandalizados com tanta baixaria.
Marshall McLuhan afirmava ser o meio a própria mensagem; acredito nele, pois basta a televisão estar ali, mesmo desligada, para comunicar muita coisa. Desde os anos 80, pessoas "chiques" passaram a descartá-la da sala de estar, pois julgavam ser aquele um recinto de convívio, de sociabilização, não havendo lugar para o até então moderno aparelho.
Já Nelson Rodrigues dizia que "dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro". A contar por edições anteriores, amor de Big Brother é como romance de férias no litoral: não sobe a serra, não prospera, principalmente se um dos efêmeros pares que ali se formam se tornar o vencedor da contenda. No jogo impera a lógica do "eu se fiz sozinho" (sic): embora a grana seja muita, por que dividi-la com seu "amor"?
A velha fórmula de manipulação da Roma Antiga, pão e circo, continua funcionando muito bem em tempos de TV digital. A considerar os altíssimos índices de votação, é disso que o povo gosta. Dados sobre o faturamento da arrecadação via torpedos não são revelados; mas se o prêmio aumentou 50% da última edição para a atual, mesmo sem ser economista, é possível imaginar o elevado número de zeros que compõem a cifra.
Uma expressão popular do fenômeno pode ser vista no blog A Voz do Cordel, de Antonio Carlos de Oliveira Barreto. Um banho retórico no discursinho poético-patético de Pedro Bial, vale a leitura.
Então é isso, continue dando aquela espiadinha. E, se possível, votando. Depois de dois meses, findo o programa, de qualquer jeito você vai ter que voltar para sua própria vidinha e enfrentar a dura realidade. Talvez um pouco mais pobre, no bolso e na mente...
Regina Azevedo Regina Azevedo é jornalista e Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, escritora, editora da OP Livros, professora nas áreas de Comunicação Interpessoal e Empresarial e Motivação junto ao PECE - Programa de Educação Continuada em Engenharia da POLI-USP e doutoranda na área de Psicologia Organizacional no IP-USP.
Fonte: prazeremconhecerse
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