Diferenças há, mas não muitas
“Geração enrascada”by Jumento
“Há uns anos atrás alguém falou da “geração rasca” e a definição tornou-se moda, parecia que a geração a que se iria passar o testemunho do futuro do país não estaria à altura das circunstâncias. Talvez porque a consciência pese a muita gente deixou de ser moda falar da geração rasca, agora teríamos que usar uma definição bem diferente, mais do que rasca é uma geração enrascada.
Não admira a quase total ausência de jovens na campanha das presidências, eu diria que os únicos jovens que vi durante a campanha eram do clã da Quinta da Coelha e pouco mais. Longe vão os tempos em que os jovens enchiam os palcos e as salas dos comícios eleitorais, hoje a presença de jovens limita-se aos jotas contratados para conduzir as viaturas de campanha, pagos a 50 euros por dia mais almoço e em dinheiro para não se pagarem impostos e branquear os donativos feitos à margem da lei.
Hoje os velhos enchem os comícios e pela dimensão da abstenção parece-me que também enchem as urnas. Os comícios estão cheios de velhos, os almoços de campanha parecem refeitórios dos centros de dia, os principais candidatos são velhos já em estado adiantado de decadência, até para os festejos de vitória ou se arrebanham velhos (como já vimos numas autárquicas em Lisboa) ou são meia dúzia de militantes a dar o litro com gritaria na esperança de iludirem as imagens passadas pelas televisões.
Não admira que uma boa parte da juventude se reveja nesta democracia ou para ser mais rigoroso, neste democracia geriátrica em que tudo é dominado por velhos. Os próprios candidatos só se dirigem aos jovens em discursos de circunstância, para manifestarem preocupação com as “gerações futuras” ou para dizerem que estão ali porque se preocupam com o futuro dos netos.
A verdade é que as gerações que dominaram o poder desde o 25 de Abril pouco enriqueceram o país e usaram uma boa parte dos recursos a distribuir riqueza deixando as dívidas para as gerações que vierem depois. O resultado é aquela estamos a ver, o país não só protege o interesses dos mais velhos à custa do futuro dos mais jovens como chega às mãos dos jovens endividado e sem soluções para os problemas.
Os governos cortam nos vencimentos e protegem as pensões, os sindicatos protegem os empregados ao ponto de inviabilizar a criação de emprego, protege-se o emprego de uns à custa da precariedade dos outros. A geração enrascada não tem perspectivas, é explorada até à medula em escritórios de advogados e de ateliers de arquitectura pertencentes a gente bem que todos os dias aparece nas televisões vertendo lágrimas de crocodilo pelo futuro dos jovens.
Aqueles que terão de pagar as pensões abusivas de uns não sabem as terão quando chegar a sua vez, aqueles que nunca saberão o que é um emprego estável animam o mercado de trabalho para garantir a estabilidade no emprego dos que os antecederam, aqueles que fazem parte da geração que mais estudou e se qualificou são rejeitados pelo mercado de trabalho.
Não admira que hajam cada vez mais jovens a participar na política, uma boa parte dos nossos políticos ou são velhos ou não o sendo já nasceram assim. E como o peso eleitoral dos jovens é cada vez menor não admira que se governe para, em função e a pensar nos mais velhos, como vimos pelos candidatos destas eleições presidenciais à redução da participação dos jovens corresponde um aumento da longevidade dos políticos no activo, não admira que daqui a uns anos os candidatos às presidenciais andem nos oitenta ou mesmo nos noventa anos.
A geração enrascada despreza cada vez mais esta democracia o que tem a sua razão de ser, se é a Merkel que lhes promete emprego e é em mercados como Angola, Reino Unido ou Brasil que procuram emprego e por cá só lhes oferecem os ossos porque razão hão estar interessados em saber se é o Cavaco, o Alegre ou o Nobre que preside, os velhos que se entendam.
Aquela que era designada por geração rasca é a geração enrascada, a geração rasca é a que tem governado e continua a governar este país, gente sem competência, sem criatividade, sem sentido de futuro, sem ambição, sem competividade e sem muita vergonha na cara.”
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