“A gordura de Ronaldo, a tireoide e a paixão”
Por Cristiane SegattoRonaldo mencionou o hipotireoidismo como se ele fosse um atenuante. Como se a disfunção da tireoide pudesse explicar os cerca de 20 kg que engordou desde 2002. “Muitos devem estar arrependidos de terem feito tanta chacota com meu peso”, disse aos jornalistas.
A coisa não é bem assim. O hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireoide (localizada no pescoço, logo abaixo do Pomo de Adão) não funciona de maneira correta. Ela passa a liberar hormônios (T3 e T4) em quantidade insuficiente. A disfunção facilita o aumento de peso porque provoca retenção de líquido - e não o aumento da gordura corporal. Por causa do inchaço, o ponteiro da balança sobe três, cinco, seis quilos. Não é coisa de 10 kg. Muitos menos de 20 kg.
“É improvável que o ganho de peso do Ronaldo tenha sido provocado pelo hipotireoidismo”, diz Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Ronaldo disse também que não se tratou porque o remédio poderia ser detectado no exame antidoping. Era a segunda bola fora. No mesmo dia os especialistas esclareceram que o remédio não consta na lista de substâncias proibidas pela
O tratamento do hipotireoidismo é simples e barato (de R$ 11 a R$ 40 por mês). A substância levotiroxina é igual ao hormônio natural produzido pela glândula. Basta a pessoa tomar um comprimido por dia em jejum. Se respeitada a dose correta, não há nenhum efeito colateral. Muitos brasileiros passam por isso sem maiores dificuldades. O problema é mais comum no sexo feminino. Anualmente, quatro mulheres a cada 1.000 têm o problema. Para cada oito mulheres, um homem apresenta a disfunção.
Dois meses depois do início do tratamento a maioria das pessoas se recupera completamente. Mas precisa fazer avaliações periódicas e continuar repondo o hormônio de acordo com a necessidade.
A terceira bola fora de Ronaldo foi ter escondido o fato de que, na verdade, havia se tratado. A doença diagnosticada em 2007, quando ele estava no italiano Milan, foi tratada com levotiroxina. Assim como o Milan, o Corinthians comunicou a Fifa e a Agência Mundial Antidoping que Ronaldo estava tomando o remédio. Julio Stancati, médico do Corinthians, declarou que o tratamento foi retomado em janeiro deste ano.
Ao tentar atribuir o ganho de peso ao hipotireoidismo, Ronaldo reproduz um costume popular. Quem não conhece alguém que já recorreu a esse expediente? Essa tradição vem do tempo em que o diagnóstico das doenças da tireóide era muito difícil. Sem os exames atuais que são capazes de dosar a quantidade de hormônios T3 e T4 no sangue, muitos diagnósticos eram errados. A pessoa engordava por outras razões, mas a tireóide era responsabilizada. Virou uma desculpa disseminada.
Ao dizer que tem problemas de tireoide, os gordinhos se sentem perdoados. É como se reafirmassem que, se não emagrecem, não é por falta de força de vontade. O discurso cruel da força de vontade sustenta o julgamento que lançamos sobre os obesos o tempo todo -- explicitamente ou em silêncio.
A obesidade é uma doença. Complexa, multifatorial, mal compreendida por grande parte da sociedade. Não podemos permitir que, em função da nossa ignorância a respeito dos fatores que a desencadeiam, os obesos sejam encarados como fracos e preguiçosos
Os gordinhos, os gordos, os gordões já enfrentam problemas demais nesse mundo cada vez mais obesofóbico. Não precisam carregar também a culpa. É preciso entender que a sina da humanidade é engordar. Ninguém está livre disso. Uma pessoa de 30 anos que faz tudo certo e tem peso pena raramente chegará aos 50 com o mesmo corpo. Alguns conseguem, é claro, mas representam a absoluta minoria.
A obesidade é o preço que pagamos pelo conforto que não tínhamos no tempo das cavernas. Queremos tudo à mão.Comida farta, controle remoto, carro com ar-condicionado, direção hidráulica e vidros elétricos. Tudo isso engorda. Se qualquer um está sujeito ao ganho de peso, o que dizer dos jogadores de futebol? Eles fazem tanto exercício que chegam a gastar 5 mil calorias por dia. Quando estão prestes a se aposentar estão cheios de lesões que limitam a atividade física. Eles se despedem do futebol, mas os hábitos alimentares não mudam. Continuam ingerindo a mesma quantidade de calorias. Ou muito mais, quando se esbaldam nas festas cheias de comida e bebida. São inúmeros os exemplos de jogadores que engordaram ao final da carreira ou logo depois dela. Ronaldo não está sozinho nessa.
Os últimos lances dele foram melancólicos. Por força
Tudo o que Ronaldo não podia mais oferecer. Ele sai para uma segunda carreira sem perder as glórias do passado. Foi um craque de primeira grandeza e será sempre lembrado por isso. Não precisava se embananar na tentativa de explicar seu ganho de peso. Podia ter se poupado de suas três últimas bolas fora.
Fonte: Época
Afinal encontro um texto falando sobre a despedida desse "fenômeno", mais condizente com a realidade: hipotiroidismo=desculpa esfarrapada, nem acho que é "bola fora" ter mencionado tal fato, em sendo falsa a informação da forma em que foi apresentada, é um deslavado mentiroso. Fenomenal teria sido ele não ter participado do último jogo da copa de 1998, se estava "zoado" que ficasse na cama; se não foi isso, se entregou o jogo para os franceses, desmereceu tudo o que fez antes como atleta e tudo o que fez depois. Já vai tarde esse fenomenal farrista!
Ana Maria
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