"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

quinta-feira, abril 17, 2008

Eleições Municipais

Nunca antes na história deste país

Lucia Hippolito

Pelo visto, as eleições de 2008 serão diferentes de tudo o que já se viu no Brasil em matéria de eleição municipal.

Até hoje, uma das regras da política brasileira dizia que presidentes da República não se envolvem em eleições municipais.

Em geral, essas eleições ocorrem no meio do mandato presidencial, e muitas críticas ao governo federal podem transformar-se em derrota dos candidatos de partidos governistas.

Se o governo faz a maioria dos prefeitos, o presidente capitaliza alegremente os resultados, declarando que a vitória é a vitória das políticas do governo federal.

Se, ao contrário, a oposição faz a maioria dos prefeitos, o presidente alega que as eleições são locais, com preocupações locais.

E, silenciosamente, inicia a correção de alguns rumos de seu governo.

Assim tem sido até agora. Inclusive na eleição de 2004, quando o presidente Lula interferiu muito pouco nas eleições municipais.

Mesmo a derrota de Marta Suplicy em São Paulo, das poucas eleições em que Lula se meteu, não foi contabilizada no Planalto como uma derrota do governo, mas uma derrota de Marta.

Entretanto, em 2006 a situação começou a mudar. E o agente desta mudança foi o Bolsa-Família. Nas eleições daquele ano, o PT desalojou os coronéis tradicionais do Nordeste e os substituiu por um tipo de “coronelismo federal”.

Eleitores municipais, livres do jugo do coronel local, passaram a dedicar sua lealdade exclusivamente a Lula, engordando os índices de popularidade do presidente.

O fato é que Lula decidiu transformar as eleições de 2008 em um plebiscito sobre o seu governo. É candidato em cada um dos municípios brasileiros. É Lula que se coloca em julgamento.

Com isso, inverteu-se a lógica da política brasileira. Em vez de a política nascer no município, com candidatos a prefeito alavancando carreiras e eleições de deputados estaduais e federais, agora é o presidente da República que joga suas fichas e suas benesses em candidatos a prefeito.

Esta inversão de lógica pode ser extremamente prejudicial a partidos políticos fortemente fundados em bases municipais.

O principal prejudicado por esta “candidatura” onipresente do presidente só pode ser, naturalmente, o PMDB.

Herdeiro das tradições do velho PSD, o PMDB é o partido de maior capilaridade no Brasil. Dono do maior número de prefeitos, o partido é tão baseado na política municipal, que sua Convenção Nacional, por exemplo, é composta por delegados dos municípios, consolidando a lógica “do município para a União”.

A eleição de 2008 pode estar iniciando um ciclo inédito na política brasileira, invertendo a mão da lógica eleitoral, transformando o prefeito num mero agente do presidente da República e matando de vez a já moribunda federação brasileira.
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