"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

quarta-feira, maio 21, 2008

Blindando o Palácio

Um dia perfeitamente inútil

Lucia Hippolito

A primeira vítima do dia de ontem na CPI foi a língua portuguesa. A pobrezinha foi surrada sem dó nem piedade pelas excelências presentes. Do governo e da oposição.


“Percalço” em vez de “encalço”. “Vinculado” no lugar de “veiculado”, “expiação” em vez de “especulação”, “defamar” em vez de “difamar”. E por aí foram, garbosos e cheios de si.

O ponto alto foi um deputado obeso, que vociferava, colérico, à beira de um enfarte: “Vou empregar o pretérito perfeito!” e imediatamente começou a empregar o verbo no... futuro do pretérito!

No mais, um show de grosseria, prepotência, maus modos e falta de educação. Gritaria, gritaria, e resultado próximo de zero.

Como diz Shakespeare, discursos “cheios de som e fúria, e significando nada”.

Nada sobre quem mandou fazer o dossiê, nada sobre quem o elaborou.

Uma jornada muito penosa.

André Fernandes e José Aparecido mentiram. Várias afirmações contraditórias constituíram razões suficientes para a realização de uma acareação entre os dois.

Só alguns exemplos.

1. André afirma que não pediu emprego a José Aparecido. Aparecido apresentou um currículo de André recebido por e-mail.

2. André diz que jamais sugeriu que Aparecido procurasse a revista Veja. Aparecido afirma que André é amigo de um repórter da Veja e insistiu para que Aparecido o procurasse.

3. André diz que romperam em 2004 durante a CPI do Banestado porque se sentiu usado por Aparecido. Aparecido alega que romperam em 2003 por conta de uma história sem pé nem cabeça.

4. André afirma que Aparecido apontou Erenice Guerra como a mandante do dossiê. Aparecido afirma que André mente.

A tática dos governistas foi a de desqualificar André Fernandes, seu depoimento e seu caráter. Como não dá para inocentar Aparecido – já indiciado pela Polícia Federal –, a tática governista foi a de tentar construir uma espécie de conluio perverso entre os dois funcionários experientes e conhecedores das manhas da política, que se teriam unido com um propósito desconhecido.

A intenção do governo é virar esta página rapidinho. Mas se a chapa esquentar, entre expor a ministra Dilma Roussef a um constrangimento ainda maior e entregar na bandeja a cabeça de Erenice Guerra, adivinhem qual vai ser a atitude do governo Lula!

O presidente Lula já teve que abrir mão de auxiliares muito mais preciosos, amigos e companheiros que vinham com ele há 30 anos, e que foram, em grande parte, responsáveis por sua vitória em 2002.

Vai preservar a cabeça de uma assessora de Dilma Roussef e deixar a ministra ao relento?

Pelo sim pelo não, é melhor Erenice Guerra começar a preparar o pescoço.
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