"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

domingo, novembro 16, 2008

`Pátria Madrasta Vil´

REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES


Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'

Por Clarice Zeitel Vianna Silva

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero
de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do
que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade,
o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais
é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de
contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas
eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço
de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol
com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem
ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me
aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para
morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela
me daria um verdadeiro PACote que fosse efetivo na resolução do problema, e
que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me
adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de
oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.
A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e
esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É
disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que
quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam
hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma
contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a
pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela
ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade:
nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do
Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão
confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que
reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas
preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução
estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de
seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal,
de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não
afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o
sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um
posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por
todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma
madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?


Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.

A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num
livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está
disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.

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