Migração de 70 mil km entre pólos
por Susana Salvador
Nos seus 34 anos de vida, a pequena gaivina do Árctico faz o equivalente a três viagens de ida e volta à Lua.
Mede entre 33 e 38 centímetros de comprimento e pesa pouco mais de cem gramas, mas é a campeã das migrações. Todos os anos, a gaivina do Árctico (ou andorinha-do-mar-árctica) faz uma viagem de 70 mil km entre o Pólo Norte , o local de nidificação, e o Pólo Sul. Na sua rota, sempre à procura do Verão, esta ave faz o equivalente a três viagens de ida e volta à Lua (cerca de dois milhões de km) durante os seus 34 anos de vida.
A longa aventura de norte a sul da Sterna paradisaea foi detalhada graças à monitorização de 11 espécimes, apetrechados com um dispositivo mais pequeno que um fósforo (ver caixa). Os resultados foram publicados ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
A viagem começa em Agosto ou Setembro, com a gaivina do Árctico a deixar a Gronelândia para chegar ao mar de Weddel, na costa da Antárctida. Aí passa entre quatro e cinco meses, antes de regressar novamente ao Norte, chegando a casa em Maio ou Junho.
O estudo permitiu descobrir que o caminho não é directo. Começam por fazer uma longa paragem no meio do Atlântico Norte, a mil quilómetros dos Açores. Aí alimentam-se de zooplâncton e peixe, ganhando forças para o resto da viagem. Seguem depois pela costa europeia e africana até Cabo Verde, onde podem optar por dois caminhos: continuar junto a África ou atravessar o Atlântico e fazer depois a costa brasileira. Os cientistas acreditam que o vento pode desempenhar um papel importante nesta escolha. A viagem para Sul é de 34 600 km e as aves fazem 330 km por dia. O regresso é mais rápido (25 700 km, 520 km por dia), apesar de as gaivinas do Árctico não seguirem o caminho mais rápido. Optam antes por fazer um grande "S" pelo meio do oceano, aproveitando os ventos favoráveis.
"É um feito impressionante para uma ave que pesa pouco mais de cem gramas", disse Carsten Egebang, do Instituto de Recursos Naturais da Gronelândia, o principal autor do estudo que conta ainda com cientistas da Dinamarca, dos EUA, do Reino Unido e da Islândia. "A nossa análise mostra que o comportamento das aves está directamente relacionado com parâmetros biológicos e físicos", indicou, lembrando que a "pausa" no Atlântico Norte é feita em áreas altamente produtivas. Um pouco mais a sul e não haveria comida suficiente.
Fonte: DN Ciência
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