"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Burro ele não é.

Blog Reinaldo Azevedo

O discurso de Lula na TV, ontem, foi soft. Não há novidade nenhuma em um governante ser ufanista, não é mesmo? “Nunca antes isso”, “nunca antes aquilo” etc e tal. Enquanto a realidade econômica do mundo for esta que aí está, Lula será este que está aí. Eis uma boa síntese.

A verdade é a seguinte: inflação baixa e crescimento econômico, ainda que nada espantoso, fazem um bem danado ao governo. E lhe permitem vender como verdadeiras algumas empulhações. Uma delas é grosseira: os tais programas sociais estariam na base da formação do tal mercado de massas no país, o que é mentira.

Esse mercado existe por causa do crescimento. E o crescimento existe porque Lula deixou rodando o modelo que herdou do seu antecessor, embalado, agora, pela expansão da economia mundial. Ele sabe disso. Isso é fato. Mas a propaganda lhe permite contar outra história. E seria demais exigir de Lula que dissesse a verdade.

A parte do Brasil que dá certo é justamente aquela que prova a falência de todas as teses petistas.

Eles eram contra o regime de metas de inflação. Mantido.

Eles achavam o superávit primário mera doação de dinheiro a banqueiros. Foi ampliado.

Eles eram contra as privatizações – aderiram.

Na parte que lhes cabe ser original, fazem besteira: elevação desnecessária de gastos públicos, por exemplo. Somados ao aquecimento da demanda, a inflação se anuncia como o problema de 2008.

Lula também canta as glórias da elevação da renda – que, atenção, já conheceu picos mais elevados no governo FHC, ainda não-superados pelo lulismo, com a diferença notória de que o mundo, agora, joga a favor do Brasil.

Nos oito anos de FHC, cinco crises jogaram contra.

É bem provável que Lula termine o seu segundo mandato sem que nada (que NÃO dependesse de sua intervenção) tenha dado errado – não sei se atentam para a sutileza.

Ao lamentar a não-aprovação da CPMF, afirmou:

“Na saúde, no começo de dezembro, lançamos o PAC, que destinaria até 2010 mais R$ 24 bilhões para o setor. Entre outras coisas, todas as crianças das escolas públicas passariam a ter consultas médicas regulares, inclusive com dentistas e oculistas. Infelizmente, esse processo foi truncado com a derrubada da CPMF, responsável em boa medida pelos investimentos na saúde. Como democrata, respeito a decisão tomada pelo Congresso. E estou convencido de que o governo, o Congresso e a sociedade, juntos, encontrarão uma solução para o problema.”

É uma variante daquela sua afirmação formidável de que a Saúde estava “próxima da perfeição”. As crianças brasileiras conheceriam agora o nirvana, mas os malvados do Congresso impediram.

Os tocadores de tuba queriam que ele pegasse mais pesado, que saísse demonizando as oposições.

Mas ele, que burro não é, preferiu o caminho do ufanismo.

Entendam bem: se Lula insistisse na história de que a Saúde pode caminhar para o caos, haveria de se lhe perguntar o óbvio: o que seu governo fez com a CPMF até agora? Então ele prefere falar dos supostos benefícios adicionais que deixarão de existir sem a contribuição.

Lula é melhor do que os tocadores de tuba e os jornalistas “dualéticos”.

Ao menos não é burro.

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