"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

sábado, dezembro 08, 2007

Ninguém "viu". Ninguém vê.

Ontem foi sexta-feira, eu cheia de tarefas à cumprir e saindo do shopping Iguatemi, seis e meia da tarde (como na realidade, são cinco e meia), dia ainda muito claro, avenida movimentada, muitas pessoas indo e vindo e toca meu celular, passo algumas sacolas de uma mão para a outra e atendo o telefone; não durou um minuto, resolvida a questão olho para minha bolsa para depositar de volta o celular. Não tive mais tempo algum, senão mecanicamente voltar um pouco do peso das sacolinhas para a outra mão, quando me sinto "prensada" por um sujeito jovem e que disse palavras clássicas: "Não se mexa senão eu atiro, me passe o celular rápido." Ele fez outras ameças que não merecem menção - são clássicas.

Ficou em mim tão fixado, quando levantei os olhos para seguir em frente após guardar meu celular, que aquela presença próxima (continha até certo calor), era um assalto, que tentei me desviar como se fosse eu a estar caminhando errado - me fazendo de desentendida (isso não levou mais que dois segundos) e me senti acuada pela pessoa que nem encostou em mim...tudo é tão demasiadamente rápido, inclusive sensações e pensamentos. A conclusão: a decisão de tentar reagir ou não.

Como já reagi a outro assalto, tudo aquilo percorreu meu cérebro e em velocidade tão "pasmante": eu era bem mais jovem, eu estava em um carro e o meliante era um moleque. Ele está de frente para mim, veste uma jaqueta (era verde petróleo) e ao subir meus olhos eu verifiquei (nem sou observadora visualmente), que de seu bolso direito vinha algo pontudo em minha direção. Embora ele dissesse: "rápido, rápido, rápido!", eu voltei a passar minhas sacolinhas para a mão esquerda - ainda ponderando se não seria interessante reagiar (uma de minhas sacolinhas carregava algo pesado - um tel sem fio que acabara de comprar), fiz as coisas a meu tempo - felizmente meu cel tem um lugar cativo em minha bolsa, mas ainda tive um tempo de pensar em pegar o guarda-chuva e dar-lhe uma "pitombada" na cabeça, consegui pensar que eu não seria tão rápida para ele não enxergar e talvez, atirar em mim. Concluindo que um aparelho de telefone não valia a pena tentar "ato heróico", eu tirei o aparelho e lhe entreguei. Ele me mandou não correr.

Muito ao contrário, eu queria era correr atrás dele, mas de tanta raiva e indignação que me causam coisas como essa! Eu não tremi de medo dele, eu tremi de raiva da situação em que vivemos todos Nós.

Eu fiquei parada e andei alguns passos na direção oposta ao meu destino, para onde ele andou - andou simplesmente. Ele não parou de voltar sua cabeça para trás e eu estava lá. Tive vontade de gritar: "ladrão medíocre e vagabundo!!!!" Não o fiz, conclui que não merecia meu esforço (ando com uma tosse!). Eu fiquei parada lá por tempo suficiente para ve-lo mudar de calçada e sempre se voltando para mim. Eu o odiei. Meu ódio me fez mal e fará mal também a ele - eu senti que era um "iniciante dos correrias da vida", essa vida nossa que não vale mais nada - como o escreveu Lya Luft na semana que termina, além da contribuição para a CPMF.

Ana Maria Cordovil

*

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails