"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

segunda-feira, setembro 03, 2007

Um Brinde ao Acaso









por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa


"Nosso país deve muito ao acaso. Cabral, querem nos fazer crer, veio bater aqui por acaso. Procurava as Índias, não tinha a menor idéia de nossa existência, e o sensacional acaso das calmarias o trouxe até nossas praias. Há belos mapas anteriores à missa em Porto Seguro onde o Brasil aparece, mas isso é um detalhe, foi o acaso que nos descobriu.

Mais tarde, Napoleão Bonaparte cismou que ia ser dono do mundo. Invadia os países dos outros com a maior naturalidade e lá colocava a penca de irmãos que tinha, como reis. Se não tinha irmãos disponíveis, ia de marechais mesmo. Pois bem, cismou com o pequenino Portugal que, por acaso, tinha uma bela e próspera colônia a seu dispor. Que fez o Príncipe Regente que, por acaso, reinava em nome de sua mãe, D.Maria I, a Louca? Correu para cá com toda a corte, isso em 1808.

Mais uma vez, o acaso veio em nosso socorro. Napoleão tantas fez que perdeu todas, e a Europa reuniu-se em Viena para retomar seus reinos e recolocar tudo nos seus devidos lugares. No caso de Portugal, só queriam reconhecer Lisboa como capital a ser restaurada; D.João, por acaso já apaixonado pelo Brasil, agiu rápido e, em 1815, elevou o Brasil a Reino Unido aos de Portugal e Algarves. De colônia à sede de um Reino, não fosse a ambição desmedida do grande general e ao vitorioso inverno russo, isto é, ao acaso, não teríamos dado esse pulo tão cedo.

Passam-se sete anos; o bravo e mal-interpretado D.João VI já regressara a Portugal. Deixara o belo e animadíssimo filho Pedro aqui, não sem antes lhe dizer que não bobeasse, qualquer coisa, tomasse a coroa para si antes que outro aventureiro o fizesse. Sabia das coisas esse pai. Logo que a ocasião se apresentou, D. Pedro que, por acaso, passava pelas margens do Ipiranga, em São Paulo, recebe notícias adversas vindas de Portugal; logo se lembrou das palavras do pai e deu o célebre grito. Dizem que sua parada naquelas plagas se deveu a um infeliz acaso. Sabe-se lá. O fato é que o Ipiranga entrou, por acaso, em nosso hino.

Em 1889, o ambiente político estava complicado. Questões militares mal resolvidas eram responsáveis por tumultos e conspirações. Republicanos do Rio e de São Paulo, e alguns oficiais do Exército, resolveram que na próxima reunião da Assembléia Geral, que se daria a 20 de novembro, proclamariam a República. Mas quis o acaso que boatos infundados, dando conta da prisão imediata do marechal Deodoro da Fonseca e do tenente-coronel Benjamin Constant, precipitassem os acontecimentos. O Marechal Deodoro se aproveita do acaso e já no dia 15 de novembro, é instaurado o novo regime.

O tempo passa, corre até. Houve quem dissesse que é o senhor da razão. Parece ser. O acaso não nos abandona, disso a História recente é testemunha.

Mais um exemplo: o Brasil acaba de passar por um de seus mais belos momentos, a aceitação da denúncia contra os membros da Sofisticada Organização Criminosa que pretendeu nos acorrentar a um Brasil pequeno e medíocre, para todo o sempre. O Supremo Tribunal Federal mostrou-se em toda a sua glória: inteligente, articulado, brilhante. Ficamos todos, os brasileiros de bem, absolutamente entusiasmados com a decisão do STF.

Mas, lá estava o acaso de olho no Brasil. Dois ministros, distraídos, para aliviar a tensão de ouvir por horas a fio a lista de crimes e criminosos, resolveram trocar e-mails e um fotógrafo ágil, profissional de primeira linha, fotografou as telas dos computadores dos Meritíssimos. O assunto é do interesse dos brasileiros, a sessão era pública, o jornalista cumpria seu dever e o acaso mais uma vez veio em nosso auxílio: ficamos sabendo como pensavam e agiam pelo menos dois ministros do STF, a ministra Carmen e o ministro Lewandowski.

O ministro Lewandowski parece que não se satisfez com esse acaso e provocou outro. Foi jantar no Expand Wine Bar by Piantella. Esse bar, descrito nos guias turísticos como um dos lugares românticos da noite brasiliense, tem um jardim, com mesas também. Nosso ministro resolve que ali era um local apropriado para bater um papo de 10 minutos ao celular e contar todas as desventuras que sofreu no julgamento. Ele e seus pares, coitados, ficaram com a faca afiada da Imprensa Má e Cruel em seus pescoços! Por isso, e só por isso, ‘não amaciaram para o Dirceu’.

Que baita acaso, hein? Num dos domínios de um dos maiores amigos de José Dirceu, esse bar com nome nova-iorquino, muito bem freqüentado pelos habitantes da Capital Federal, foi o local escolhido por Sua Excelência para fazer confissões bombásticas pelo celular. A jornalista da Folha de São Paulo, que estava sentada no jardim, ouviu toda a conversa e dela fez o uso que o acaso pretendia que fizesse.

Que faz o presidente Lula enquanto o Brasil assiste a tudo isso? Nada. Enquanto prestávamos atenção no que se passava no Supremo, o presidente fazia uma declaração espantosa, vinda de um nordestino, de um homem que vai ao Nordeste com a mesma facilidade com que vamos à esquina. Declara, abro aspas: “Alguém cometeu um erro contra nosso caju em um momento da história”. Li várias vezes. Não conseguia atinar com o erro. Depois me lembrei que o presidente Lula não é deste mundo; é natural que não conhecesse o caju.

Não vou aqui perder meu tempo, e o de vocês, enumerando todas as coisas que se pode fazer com essa fruta tão nordestina que até lembra as cores e o cheiro do Nordeste. Lembro apenas que, por acaso, além da célebre batida de caju, existe também o vinho de caju; com ele podemos então, já que o acaso fez com que o presidente Lula a essa fruta fosse apresentado no mesmo dia em que a SOC foi transformada em ré, fazer um brinde ao acaso que nos uniu: À Imprensa!, na figura deste blog.


Aos copos, pois, e um brinde ao acaso!"

...e ao acaso, através do blogger de Noublat eu encontrei Maria Helena! A ela, também, um brinde!

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