"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

sábado, outubro 20, 2007

Corretíssima

por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Sem Lei Nem Grei

Poderia acrescentar ‘e sem dicionário’, já que o presidente Lula faz uso estranho das palavras. Ele não negocia, nem faz barganhas, segundo diz a torto e a direito. Mas para não perder o rico dinheirinho da generosa Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, temos presenciado ‘coisas’ que eu chamaria de barganhas.
E não é de hoje. Em 2003, para aprovar essa magnífica contribuição do brasileiro ao seu país, o Governo Lula prometeu uma reforma tributária. Conseguiu a prorrogação e nós estamos esperando a reforma até hoje.
O presidente não esconde a importância que dá à CPMF. Disse, mais de uma vez, e com ênfase sempre crescente, que “o país não pode prescindir dos 40 bilhões da CPMF”. Com certeza. Como vai poder manter tudo que prometeu para ser o convidado de honra nos palanques de 2010, como parece ser seu maior desejo?
Será que ele sabe que de janeiro a setembro deste ano entraram nos cofres da União, em impostos e contribuições, incluindo aí a CPMF, R$ 429,967 bilhões de reais? É muito dinheiro. Muito mesmo. Mas não deu, ao que parece, para sustentar o Brasil. Pergunto se ele sabe. Talvez faça parte das coisas que não sabe, apesar de ter sido chamado, carinhosamente, de ‘school boy’ pelo seu companheiro Bush.
Todos os dias lemos notícias desanimadoras sobre o estado dos hospitais, sobre doenças que já pensávamos erradicadas, sobre mortes que poderiam ter sido evitadas. Até uma epidemia de sarampo estranhíssima foi descoberta no interior da Bahia. A tuberculose, chaga erradicada em todo o mundo civilizado, aqui tem encontrado terreno fértil. O mosquito da dengue, esse se fez: encontrou o país ideal, com o clima certo e a ignorância também do tamanho certo.
Temos uma única invenção de porte. Alberto Santos Dumont, brasileiro, foi o inventor do avião. Pela importância que essa máquina adquiriu na História do Mundo, era de se esperar que aqui fosse ser cultivado o maior respeito por ela. É o contrário. Nem a aviação comercial, nem a aviação militar, fazem jus ao gênio de Santos Dumont. A comercial, todos sabemos o caos em que se encontra. Não há dinheiro nem para reformar e manter em perfeito estado de funcionamento o aeroporto da maior cidade turística do Brasil, o antigo Galeão, hoje Antonio Carlos Jobim. A aviação militar, segundo declaração recente do Ministro Saito, está em franca decadência.
As estradas continuam como bela homenagem á Lua. São crateras que se unem para formar uma via de comunicação. Que fez o governo? Recorreu ao pecado capital para um petista: à privatização. Com outro nome, naturalmente. Concessão. Seja lá que nome tenha, o fato é que o estado aceitou privatizar, o que eu estaria comemorando, não fosse um pequeno detalhe: e o imposto pago para manter as estradas? O que foi feito dele?
Ouço dizer que as zelites é que são contra a CPMF, já que o pobre não paga imposto. Vamos por partes: o pobre, pobre mesmo, esse que dorme em nossas ruas cada vez em maior número, esse nem paga, nem vive. Mas todas as outras classes pagam muitos impostos, com a exceção da classe AAA: essa investe naquilo que lhe dá isenção de IR e se aproveita também para não ser garfada pela CPMF.
Pagar impostos, desde que tivéssemos retorno, não seria nenhuma desgraça. Seria até muito bom se o governo nos oferecesse saúde, educação, segurança, transportes públicos de qualidade, uma política social eficiente e sem demagogia barata. Mas não é o que acontece. O dinheiro dos impostos escoa por milhões de ralos. A nós, os pagadores, nunca é oferecida uma explicação. E que não me venham dizer que esse economês de quinta categoria falado pelas autoridades de plantão é uma explicação. Não é. É uma embromação.
Queria que o presidente fosse á TV explicar onde foram parar esses quatrocentos e tantos bilhões arrecadados até 30 de setembro. Em linguagem simples e direta. E porque, já que o país fenece sem a CPMF intocada, agora que encontrou uma ligeira oposição, já começa a ceder aqui e ali. Ou é vital, ou não é.
Parece, no entanto, que vital não é. Tem servido para trocas por cargos, tem servido para escambos entre o governo e os parlamentares. Já passou pela Câmara. Passará pelo Senado, casa de revisão, onde a oposição ainda tem força?
E que por favor a oposição não perca tempo mostrando-se ofendida com o uso do apelido Demos pelo presidente Lula. Chega de infantilidades e de gozação com a nossa cara. Escolheram esse nome, assim, de repente, porque quiseram e não é crível que ao menos um integrante do PFL não tenha aventado a possibilidade da utilização do diminutivo Demo.
Eis uma boa oportunidade para imitar o presidente que transformou seu apelido que, afinal, nomeia um molusco, em sobrenome de família. Fez do limão uma limonada bem feita. Façam o mesmo com Demo: diabo, pessoa muito astuciosa ou turbulenta, segundo um bom dicionário. Ajam como Demos e atormentem o Governo até conseguirem o que for melhor para o Brasil. Sejam turbulentos, mas não se curvem às exigências de um Governo que, vencida essa etapa, lhes dará um bom “até á vista!”. Ou então acabem logo com a farsa e dispam a camisa da oposição. Seremos um país sui generis: sem ser uma ditadura, seremos todos situação.

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