"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

segunda-feira, outubro 08, 2007

Governados pela Escória!

O Caso Renan

Por Ricardo Noblat


O que ele tem a perder

Quase escrevi lá para baixo: “O fato é que Renan Calheiros não tem mais nada a perder. É por isso que apertou o botão “dane-se” e continua a superar seu próprio recorde de canalhices, como essa de contar com um assessor capaz de espionar senadores para mais tarde chantageá-los”. Mas aí lembrei a tempo que Renan ainda tem, sim, o que perder – o mandato.

Reparem nos atos espúrios mais recentes cometidos em 15 dias pelo sujeito que substitui o presidente da República na ausência dele, do vice, dos presidentes da Câmara e do Supremo Tribunal Federal. Primeiro Renan designou seu vassalo Almeida Lima (PMDB-SE) para relatar um dos três processos a que responde por quebra de decoro – o da compra às escondidas de um jornal e de duas emissoras de rádio em Maceió em parceria com o usineiro João Lyra.

Depois Renan mandou destituir os colegas Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Fundadores do PMDB, respeitados à esquerda e à direita, os dois votaram contra Renan no processo onde ele foi acusado de se valer de um lobista de empreiteira para pagar suas despesas com a ex-amante Mônica Veloso. Vivem cobrando o afastamento de Renan da presidência do Senado. Tornaram-se incômodos para ele.

Antes disso, um assessor de Renan voara a Goiânia com a missão de aliciar arapongas para grampear telefones e filmar embarques e desembarques naquela cidade dos senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). O plano era descobrir algo que pudesse comprometê-los e obrigá-los a votar a favor de Renan quando o próximo processo for submetido ao crivo do Conselho de Ética e do plenário.

O tal assessor, de nome Francisco Escórcio, vulgo Chico Escórcio, é figurinha carimbada no Congresso. Transita ali com bastante desenvoltura. Em 1996, por quatro meses, assumiu como suplente a vaga do senador Alexandre Costa (PMDB), seu conterrâneo. Foi então acusado de se envolver com a montagem de quatro emissoras de rádio piratas em São Luís. Em 2002, também por quatro meses, assumiu novamente a vaga de Costa.

Tentou se eleger deputado federal pelo PFL em 2002. Ficou apenas como terceiro suplente. Amigo do senador José Sarney (PMDB-AP), arranjou emprego de assessor especial da Casa Civil da presidência da República. Seu trabalho era oferecer favores a parlamentares em troca de votos para o governo. Fez dobradinha com o célebre Valdomiro Diniz – aquele filmado no Rio de Janeiro tentando tomar grana de um bicheiro.

Escórcio é assessor de Renan desde novembro do ano passado. Ganha um salário bruto de pouco mais de R$ 9 mil. Tem sala no gabinete de Renan – mas não tem dia nem hora certa para aparecer por lá. É visto com freqüência dentro do plenário, aos cochichos com senadores. Ainda não se sabe se foi ele que procurou a Kroll, empresa de Gerenciamento de Riscos, para também bisbilhotar a vida de senadores. A Kroll não topou.

Qual a melhor palavra para definir o comportamento de Renan, empenhado em salvar o mandato a todo custo? Debochado? Não. É pouco. Quer dizer, apenas, devasso, libertino. Espúrio? Significa, apenas, ilegal, ilegítimo. Descabido? Convenhamos, é polido em excesso. Reles? É sinônimo, tão-somente, de ordinário, vil. Por gasta e vulgar, descarto a expressão sem-vergonha. Que tal patife?

Patife quer dizer velhaco, pusilânime ou covarde. Tem a ver com quem manda às favas todos os escrúpulos para alcançar seus objetivos por quaisquer meios - de preferência os ilícitos. O irônico é que quanto mais forte Renan parece estar, mais fraco na verdade se revela. Não se arrisca a desfilar em locais públicos. Não ousa voar em avião comercial. Vive em casa ou no Senado cercado de seguranças bem treinados.

A essa altura, depois de manipular nos últimos cinco meses a maioria dos seus pares e o governo, Renan é um político desmoralizado. Que quer dizer, segundo o dicionário do Aurélio, desacreditado, estragado, pervertido, depravado ou corrupto.

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