"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

terça-feira, outubro 09, 2007

Então, Esses Somos Nós!?

O Estado de S. Paulo - em 09.10.07

À imagem e semelhança de Renan

De Dora Kramer:

O senador Renan Calheiros usou a cadeira de presidente da Casa para se defender de uma acusação de caráter individual e ninguém na Casa estranhou.

O senador Renan Calheiros admitiu ter usado a intermediação de um lobista para pagar a pensão alimentícia da filha por caminhos paralelos ao sistema bancário e o Senado como um todo não viu nada de anormal, considerou um “problema pessoal” do qual “ninguém está livre”.

O senador apresentou documentação comprobatória sem provas e com irregularidades, estas sim comprovadas em perícia da Polícia Federal, e o colegiado suportou.

O senador atropelou os ritos de tramitação dos processos por quebra de decoro parlamentar e a maioria de seus colegas agiu como se ele estivesse no seu direito legítimo de presidente da Casa.

O senador Renan Calheiros espalhou ameaças explícitas e implícitas a outros senadores e os não atingidos aquietaram-se.

O senador manobrou desde as primeiras reuniões do Conselho de Ética, usando para isso, de um lado um homem doente e subserviente e, de outro, o líder do governo como dublê de porta-voz e menino de recados e, nem o senador Epitácio Cafeteira, nem o senador Romero Jucá viram nada em prestar-lhe seus serviços.

O senador Renan Calheiros disse que não dispunha de documentos para provar os depósitos na conta bancária da mãe de sua filha, foi desmentido no dia seguinte pelo advogado Eduardo Ferrão que prometeu os extratos e, quando apresentados, os depósitos não combinavam com os saques, mas o Conselho de Ética não se interessou por uma investigação mais profunda sobre a produção daqueles documentos.

O senador Renan Calheiros passou a ser alvo de três outras acusações, duas delas com testemunhas dispostas a depor, mas o Conselho de Ética continua a trabalhar apenas com as alegações de defesa e a atuar a reboque de notícias publicadas na imprensa, sem produzir um único dado decorrente de investigação.

O presidente do Senado encomendou pareceres jurídicos da assessoria da Casa conforme suas conveniências e a ninguém ocorreu repudiar com objetividade a manipulação.

O senador Calheiros nomeou presidentes do Conselho de Ética um após o outro e não houve reação que pudesse impedi-lo.

O senador usou mais de uma vez a tribuna para desafiar os colegas e eles continuaram a chamá-lo de “excelência”.

O senador Calheiros reivindicou sigilo para prestar seu depoimento ao Conselho de Ética e teve aceitas suas condições.

O presidente do Senado foi alvo de uma única investigação “in loco” por parte do corregedor Romeu Tuma. As informações colhidas em Alagoas permaneceram inéditas sem que ninguém cobrasse a divulgação de um relatório.

O senador foi acusado por um funcionário da Mesa de intimidação, conseguiu calar Marcos Santi e arquivou-se o assunto.

Com tudo isso e sem que lhe fosse imposto paradeiro em momento algum, o senador Renan Calheiros foi a julgamento em sessão secreta no dia 12 de setembro e recebeu a absolvição.

O senador Calheiros, depois disso, tripudiou sobre a minoria que o condenou, ameaçou os arrependidos, continuou a montar dossiês, deixou digitais em esquema de espionagem, cassou a voz de senadores na Comissão de Constituição e Justiça e agora o Senado teme pelo destino de todos.

Ao se perceber moldado à imagem e semelhança do presidente, o Senado agora promete reagir, mas pode ser tarde.

É como no poema de Eduardo Alves da Costa dedicado ao russo Maiakovski: “Na primeira noite eles colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada/ na segunda, pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada/ até que um dia, o mais frágil deles arranca-nos a voz da garganta e, porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada”.

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