"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

quarta-feira, junho 10, 2009

Petrobras - Ataque à imprensa

Editorial de O Globo do dia 09 de junho

Ataque à imprensa

No centro do noticiário de desvios de recursos em contratos superfaturados, de irrigação generosa de ONGs companheiras, e motivo de instalação de uma CPI no Senado, a Petrobras decidiu, de maneira agressiva, antiética e ilegal, tentar acuar O GLOBO, a "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo", jornais que, por dever de ofício, acompanham com a atenção devida as evidências de desmandos na administração da companhia.

O caminho encontrado pela estatal foi publicar em um blog da empresa as perguntas encaminhadas por repórteres dos jornais e respectivas respostas. Com o detalhe, também grave, de que a empresa divulgou na sexta informações que prestara para uma reportagem que seria publicada no GLOBO de domingo, numa as-sombrosa quebra do sigilo que precisa existir no relacionamento entre imprensa e fonte prestadora de informações. Agira da mesma forma com os outros jornais.

Mesmo as perguntas, encaminhadas por escrito, são de propriedade do jornalista e do veículo a que ele representa. O indisfarçável objetivo intimidativo da empresa, como bem interpretou nota da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), desrespeito profissionais e atenta contra a liberdade de imprensa, ao violar o direito da sociedade de ser informada, sem limitações.

A Petrobras fere a Constituição. Corporação poderosa, com tendência histórica de se descolar de controles públicos, a Petrobras, com a política de aparelhamento do Estado posta em prática por Lula, se tornou, em parte, um bunker nas mãos de correntes de sindicalistas, do PT e sob o jugo dos anseios fisio-lógicos do PMDB.

A estatal alega praticar a "transparência" ao cometer o erro de divulgar material de propriedade de profissionais e veículos de imprensa. Ser cada vez mais transparente é um objetivo correto para a estatal -, caso ela não o use como justificativa para agir deslealmente com os meios de comunicação. A Petrobras errou, e espera-se que volte atrás nos procedimentos nada éticos que adotou no atendimento à imprensa.

Pelo seu porte, obrigada a prestar informações a milhares de acionistas e a órgãos reguladores dentro e fora do país, a estatal não pode ser instrumento de grupos políticos, não importa de qual figurino ideológico.

A empresa, sem dúvida uma conquista da sociedade brasileira, já atingiu um porte diante do qual governos devem tratá-la com respeito, mas sem permitir que paire sobre o país, imune a qualquer regulação, que se feche diante do legítimo interesse do contribuinte em saber como são feitos os negócios públicos.

O Tribunal de Contas da União (TCU), ligado ao Legislativo, tem acesso a contratos firmados pela administração direta pelos quais o contribuinte financia ONGs e organizações sociais. A estatal faz o mesmo, mas impede auditores do tribunal de examinarem os acordos, escudada na interpretação de uma lei da era FH. Sem qualquer preocupação com os interesses dos acionistas privados, no Brasil e no exterior, a estatal montou uma desproporcional equipe de mais de 1.150 profissionais de comunicação, uma redação que supera em três ou quatro vezes cada uma daquelas dos maiores jornais do país. Vê-se agora que um dos objetivos é usar esta redação - ociosa, por falta do que fazer no trabalho normal de comunicação corporativa - na luta política e na ameaça à imprensa.

Outro sinal da transformação da Petrobras em uma espécie de caixa dois de operações políticas está exposto na reportagem do GLOBO, no domingo - cujo sigilo foi quebrado pela estatal -, sobre o apoio continuado ao projeto sem destino do uso da mamona como biocombustível. A própria Agência Nacional de Petróleo (ANP) já atestou a inviabilidade do programa. Mas,como assentamentos do MST, da Contag e outras organizações ditas sociais são beneficiários do projeto, milhões de reais continuam a ser repassados, enquanto a mamona apodrece em armazéns no sertão nordestino. Não por acaso, no lado da estatal, quem gerencia esta área é Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário no primeiro governo Lula, quando patrocinou o aparelhamento do Incra pelo MST e satélites. Hoje, transfere dinheiro da Petrobras para os antigos aliados -, com a vantagem de não precisar prestar contas ao TCU.

O ataque da Petrobras à imprensa, nova especialidade de uma empresa que deveria estar concentrada na exploração do petróleo e gás, não deve ser, portanto, um simples desvio organizacional. Longe disso. Tudo parece coerente com um estilo de administração e diversificação de objetivos adotados nos últimos tempos.

Editorial de O Globo do dia 09 de junho

4 comentários:

MOMENTOBRASILCOM.COM disse...

Ana Maria: Com todo respeito aos Redatores/Editores de "O GLOBO", existe grande confusão neste episódio.Ninguem é obrigado fornecer informações em sigilo. Não se pode privilegiar uns em detrimento de outros. E se uma ou mais perguntas de determinado meio de comunicação,não fossem publicadas?. Compete a cada um, publicar ou não matérias. Mas,exigir sigilo ou prioridade, nâo. Protecionismos não podem acontecer,muito menos 'monopólio' informativo. "Notícia tal", só pode ser dada por "orgão tal? O que seria dos demais?. O que seria do amarelo, se todos só pintassem com azul?(Roy Lacerda).

Ana Maria disse...

Roy,
Em sendo você jornalista e conhecendo a ética profissional da categoria, não me sinto capacitada a discordar de você, como também não de um jornal respeitado. O reclamo do jornal pode até não ser coerente, mas tudo mais que é dito na matéria é de arrepiar os cabelos e não acredito que fuja à verdade. Que o diga Sr. Franklin Martins.
Abraço

Anônimo disse...

Ana,não querendo polemizar,pois não é êste meu feitio,o Sr. Franklin Martins, deixou a Globo, seduzido por algo mais no governo. Abrcs.

Anônimo disse...

Não vejo muita novidade nisso não : Desde quando governos que apoiam Socialismo/comunismo gostam de imprensa (jornal , tv , revista ) . E quem escolhe os chefes da Petrobras é o governo , então não vejo novidade em eles odiarem imprensa .
E a petrobras que detem o monopólio de petróleo no Brasil . Nunca nos E.U.A. com crise e tudo , o preço da gasolina chegou ao preço que nós brasileiros estamos acostumados a pagar por uma gazola baptizada com alcool .
A petrobras não é um deus glorificado pelo brasileiros onde ningem pode nem tocar em seu nome sob a ameaça de ser apedrejado em praça publica por anti-patriotismo .

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