"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

quarta-feira, novembro 07, 2007

De volta ao velho e bom fisiologismo

Lucia Hippolito

Finalmente, o PSDB tomou a decisão que já deveria ter tomado há muito tempo.

Não a de votar contra a CPMF, mas a de votar unido.

Desde o início das negociações, ainda na Câmara, vários equívocos foram cometidos, tanto do lado do governo quanto da oposição tucana.

O governo errou muito. Perdeu tempo demais na Câmara, onde tinha maioria folgada.

Rendeu-se às demandas (chantagens) da base aliada, liberou um caminhão de dinheiro em emendas, concordou com nomeações prá lá de polêmicas em áreas sensíveis da administração pública.

(Vamos esperar que não haja mais mensalões, mas é difícil acreditar nisso.)

Depois de aprovar a prorrogação da CMPF na Câmara, o governo passou a errar no Senado.

Perdeu tempo demais defendendo Renan Calheiros, perdeu tempo demais com a base aliada.

O governo errou também quando tratou senadores como deputados.

O senador não é tão dependente assim de verbas de emendas. Não precisa mostrar serviço rapidamente, porque seu mandato é de oito anos.

Sua campanha é, em geral, feita junto com a do candidato a governador, por isso não depende tanto de pequenas benesses do governo. Só das grandes.

Ao perceber o monumental erro que estava cometendo, o governo concordou em sentar para negociar com o PSDB.

Mas os tucanos não se prepararam para esta negociação. Não tinham um discurso unificado, não tinham uma linha de ação política, não tinham estratégia.

Dividiram-se em três grupos, como já foi comentado aqui mesmo no blog: deputados não queriam a CPMF, governadores queriam a CPMF, e senadores não sabiam o que queriam.

Tudo isto foi construindo junto à opinião pública e ao próprio eleitorado tucano uma imagem de adesão ao governo, de atendimento a interesses menores.

(Os governadores Serra e Aécio, que não querem confrontar a popularidade do presidente Lula, manobraram para que a bancada no Senado votasse a favor da prorrogação.

Com algumas concessões, para não parecer adesão pura e simples.)

Mas a coisa foi ficando muito feia para os lados do tucanato.

Os senadores que eram contra a prorrogação da CPMF aliaram-se a deputados e ao ex-governador Geraldo Alckmin, que desde o primeiro momento posicionou-se a favor da extinção da CPMF.

O resultado foi o que se viu na reunião de hoje: nove a quatro. Nove senadores colocaram-se contra a prorrogação, e apenas quatro a favor.

(Contra: Álvaro Dias (PR), Flexa Ribeiro (PA), Artur Virgílio (AM), Papaléo Paes (AP), Marconi Perillo (GO), Marisa Serrano (MS), Mário Couto (PA), Cícero Lucena (PB) e João Tenório (AL). A favor: Tasso Jereissati (CE), Sérgio Guerra (PE), Lúcia Vania (GO) e Eduardo Azeredo (MG).)

Mas mesmo estes quatro decidiram acompanhar a maioria, e o partido deve votar unido contra a prorrogação da CPMF.

E agora?

Bom, agora o governo tem que voltar a negociar com os senadores da base aliada, majoritariamente a poder do velho e bom fisiologismo: nomeações, obras do PAC nos estados, e por aí vai.

O PDT, que pode ser fundamental nesta hora – tem cinco senadores, os cinco votos que podem decidir a parada –, já declarou que sem redução da alíquota, não vota.

E o PMDB? Este não nega fogo. Dependendo da “cesta básica” de oferta fisiológica que o governo apresentar, vota correndo.

O mercado persa que o Executivo instalou no Congresso transfere-se da Câmara para o Senado – e será inesquecível.

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