"Deus me respeita quando eu trabalho. Mas me ama quando eu canto."

quinta-feira, março 12, 2009

Grandes Mulheres do Brasil – Célia Helena

Célia Helena, nascida Célia Camargo Silva (São Paulo SP 1936 - São Paulo SP 1997). Atriz. Intérprete de personalidade cênica forte e exuberante, está em alguns dos principais momentos teatrais dos anos 60 e 70, emprestando inteligência e sensibilidade às montagens das quais participa.

Aos 16 anos Célia cursa formação de intérpretes no Centro de Estudos Cinematográficos de São Paulo, onde conhece Ruggero Jacobbi e José Renato, entre outros. Estréia no filme Fatalidade, direção de Jacques Marrete, e, na seqüência, faz Chamas no Cafezal, direção de José Carlos Burle, ambos em 1952. No ano seguinte, na produtora Vera Cruz, participa de Floradas na Serra, direção de Luciano Salce, encenador que a leva a estrear em teatro, na montagem carioca de Inimigos Íntimos, de Barillet e Grédy.

Em São Paulo novamente, faz televisão com Antunes Filho e dedica-se à sua formação artística no Teatro das Segundas-Feiras, sob a direção de Carla Civelli, que a conduz ao elenco de O Prazer da Honestidade, de Luigi Pirandello, no Teatro de Arena, em 1955. Nos anos seguintes dedica-se ao teatro folclórico de Barbosa Lessa, na montagem de Não Te Assustes Zacarias; faz rápida passagem pelo Núcleo Experimental do Teatro Cacilda Becker, TCB; e pelo Teatro Maria Della Costa, TMDC, em A Ilha dos Papagaios, de Sérgio Tofano, sob a direção de Gianni Ratto, integrando, a partir de 1959, uma longa excursão junto ao TCB, que leva, às capitais brasileiras, Portugal e França, um repertório que destaca Auto da Compadecida e O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna; Maria Stuart, de Schiller; e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho. Sob a direção de Ziembinski, integra o elenco da polêmica montagem de Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, protagonizada por Cleyde Yáconis, pela Companhia Brasileira de Comédia, em 1960. No ano seguinte, agora junto ao Teatro Oficina, participa de A Vida Impressa em Dólar, de Clifford Odetts, direção de José Celso Martinez Corrêa, que a dirige na maioria das realizações desta companhia. Ainda em 1961, José, do Parto a Selpultura, texto de Augusto Boal, dirigido por Antônio Abujamra, é outra oportunidade no mesmo grupo. Em 1962, está em Todo Anjo é Terrível, de Ketti Frings; e Quatro num Quarto, de Valentin Kataev, este sob a direção de Maurice Vaneau. Interpretando Tatiana, de Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, arrebata todos os prêmios de melhor atriz de 1963, sensível criação que a marca indelevelmente. Ainda no Oficina, atua em Andorra, de Max Frisch, 1964; e em Os Inimigos, de Máximo Gorki, 1966.

Sai do conjunto em 1967, para participar de A Saída, Onde Fica a Saída?, montagem de João das Neves para o grupo carioca Opinião. Ainda neste ano, de volta ao Arena, estréia Arena Conta Tiradentes, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Em 1968, arrebata o - Prêmio Governador do Estado de melhor atriz coadjuvante por O Clube da Fossa, de Abílio Pereira de Almeida, e Um Dia na Morte de Joe Egg, de Peter Nichols, com direção de Antônio Ghigonetto. Protagoniza o único texto de Isabel Câmara, As Moças, com o Teatro Ipanema; em 1969.

Neste mesmo ano, seu desempenho em O Balcão, texto de Jean Genet dirigido por Victor Garcia para a companhia de Ruth Escobar, projeta seu talento, merecidamente premiado. A convite do mesmo diretor está em Autos Sacramentais, encenação baseada em textos de Calderón de la Barca, estreada em Shiraz, Pérsia (Irã), e estendida à Europa, apresentando-se na Bienal de Veneza, entre 1974 e 1975.

Em 1973 integra o elenco paulista de Hoje É Dia de Rock, de José Vicente, direção de Emílio Di Biasi, em sensível criação. Volta a brilhar em Pano de Boca, texto e direção de Fauzi Arap, na marcante encarnação de Magra, uma das estrelas do grupo teatral em vias de desaparecimento, levando o Prêmio Molière de melhor atriz de 1976. No ano seguinte, junto a Romário Borelli, monta O Contestado; e A Sétima Morada, de José Maria Ferreira, realização de José Rubens Siqueira que aproveita poemas de San Juan de la Cruz e Madre Tereza de Ávila. São encenações destinadas à um circuito alternativo, especialmente igrejas da periferia.

Em 1980 está, sob a direção de Flávio Rangel, no espetáculo A Nonna, de Roberto Cossa. A partir de então lança-se a um projeto pessoal de amplas repercussões: a criação de um centro de educação teatral para jovens - a *Teatro Escola Célia Helena, fundado em 1977 - que, a partir de 1983, passa a oferecer também um curso profissionalizante de formação de atores. Razão pela qual será absorvida, ao longo destes anos, pelas atividades pedagógicas, somente retornando aos palcos em 1993, na produção de Laços Eternos, peça espiritualista de Zibia Gasparetto dirigida por Renato Borghi; assim como em Luar em Branco e Preto, texto de Lauro César Muniz encenado por Sérgio Mamberti no mesmo ano.

Na TV Globo, Célia participa de algumas telenovelas de sucesso: Brilhante, 1982; Partido Alto, 1984; Direito de Amar, 1987; e Mandala, 1988.

No dia 6 de março de 1997, internou-se no hospital Albert Einstein para extrair, por meio de uma cirurgia, um câncer raro que ataca as paredes dos vasos sanguíneos. Célia Helena não resistiu à operação, entrou em coma e faleceu aos 61 anos, no sábado 29.

É mãe de Elisa, com Ruy Ohtake, e da atriz Lígia Cortez, com Raul Cortez.

Na ocasião da morte de Célia, Lígia Cortez, também atriz, registra algumas palavras sobre a carreira de sua mãe: "Célia Helena atriz conciliou um difícil paradoxo dos atores: ser público sem perder a privacidade, a generosidade e discrição. Admiro muito a forma como ela atuou na ditadura. Nunca foi a primeira da fila das passeatas. Apenas agia. E como. Ajudou de muitas formas muitos colegas. (...) Atriz preferida de Victor Garcia, começou aos 16 anos no cinema, o estúdio Vera Cruz. Participou do Oficina, do TBC, do Arena. (...) Comecei com ela no Teatro Célia Helena, aliás, desconfio que ela fundou o teatro muito por minha causa. Sinto orgulho quando lembro que minha mãe valorizou o teatro na sua essência. Ela deu uma dimensão maior ao trabalho de atriz. Foi uma grande educadora. Ficamos Elisa (a filha que teve no seu casamento com o arquiteto Ruy Ohtake) e eu. Aprendemos sobretudo a beleza e a dignidade do trabalho profundo, pesquisador e quieto. Feito sem alarde, mas na sua essência revolucionário".

* Hoje, Escola Superior de Arte Célia Helena

Celia Helena e Elisa

Célia Helena e Elisa

estrela dourada

Fontes: itaucultural e revisstatpm


Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails